Interno e externo
Existe a crença de que o mundo é, na sua essência, indiferente e impenetrável em relação às tentativas humanas de descobrir a sua razão mais profunda. O indivíduo luta para encontrar sentido num mundo sem sentido e em simultaneidade, enfatiza a incapacidade epistémica da razão de penetrar e compreender a realidade.
Esta colisão entre um componente interno pertencente à natureza humana, e um componente externo pertencente à natureza do mundo, persiste no ser humano que vive a sua existência em busca da sua essência, do seu sentido, e encontra um mundo desconexo e ininteligível como no “Mito de Sísifo” de Albert Camus.
A busca de sentido, unidade e clareza como eternização de uma tarefa - paradoxo da vida moderna, que Teresa Murta apresenta em “Fishnet” como um diário pictórico, barómetro visual e afectivo da sua experiência vivida nos últimos doze meses em Berlim, está perpetuada nas suas pinturas como registo de um processo emocional, intuitivo e livre, carregado de um enorme ceticismo epistemológico. Embora, porém, o espectador interprete as formas e as manchas explosivas com serenidade - como se existisse uma compreensão cúmplice com a artista, pelo absurdo da experimentação de referências similares, pois em algum momento ou sítio, o imaginário se toca e se encontra. Momento em que o pensamento nega as verdades que as mãos podem tocar, o momento em que o interno não é despropósito: mas apenas levado a sério.
A partir da figuração mental e poética do significado de fishnet (arrastão em português), e do simbolismo cognitivo, Murta conduz o expectador pelo seu processo artístico de vedar e destapar imagens, de acções e escolhas, frente à possibilidade de tudo poder ter um significado mesmo que seja meramente factual.