Quando nos deparamos com a obra artística de Fábio Colaço, é inevitável o encantamento sobre os processos associativos visuais que salientam o seu processo criativo. Os temas de estudo e abordagem que incorporam o núcleo conceptual do artista, posicionam-nos de forma sagaz no centro da mensagem como protagonistas principais, duma realidade artística de incomensurável consciência social, política e económica.
O estudo comportamental de uma sociedade, que se diz evoluída e na vanguarda da contemporaneidade, leva-nos a entrar na exposição através dos olhos do artista, que de forma generosa, apresenta a obvia autenticidade do olhar sobre o outro. A série PORTRAITS explica-se facilmente se considerarmos que a sociedade actual – e conforme o que a própria história já nos apresentou, é representada numa cena teatral composta por figuras líder que retratam a realidade.
Não é por mero acaso histórico, que a palavra pessoa designa uma máscara. O reconhecimento do facto de que toda a gente está sempre em toda a parte, com maior ou menor consciência, a representar um papel.… e os líderes que Fábio Colaço retrata nesta série, não são excepção. A omnipresença de um conjunto de representantes de diversos contextos sociais, culturais e políticos, emanam uma definição de atitude de líderes deste século, e que os elevam a um estatuto de cosmopolitização e iconoclastia.
Aqui, Fábio Colaço, levanta uma questão: serão os atributos de carácter e comportamento que estas figuras conquistam na sociedade, que os estabelecem como referências, ou a simplicidade de um véu visual que verdadeiramente os distingue?! É então que compreendemos que nos autoflagelamos como objectos sobre o olhar dos outros, e essa perspectiva faz-nos prisioneiros do mundo exterior, desencadeando uma sensação de embaraço similar ao ato de espreitar pelo buraco da fechadura, e ser surpreendido.
Se o retrato é um assunto sério - pois é uma analogia da apresentação do eu ao mundo real e mediador entre a arte e a vida social, que tenciona ser a validação do elogio do individuo ao olhar publico - é neste ponto que Fábio Colaço apresenta um jogo de ambiguidades visuais que nos força o olhar e avalia o referencial do espectador. Imagens vistas através de um ecrã desfocante, que parecem ir entrando aos poucos num processo de desmaterialização, contra qualquer naturismo, isto é, um espaço em que todo o acontecimento dá lugar a um espaço potencial, o retrato de um líder, ou do que julgamos que possa ser um líder, pois entre os 30 retratos, o artista brinda-nos com a ironia de figuras fictícias imaginadas por ele.
"na arte, tanto na pintura como na música, não se trata de reproduzir ou inventar formas, mas de captar forças.”
Francis Bacon - Lógica da sensação, Gilles Deleuze 1981