O trabalho que Mónica Mindelis apresenta na série ENTRETANTO, traduz a impossibilidade do acesso a um tempo passado, sem ser através da memoria e da percepção da relação comum entre a arte e a nossa própria existência.
A espiritualidade do tempo, é explorada pela linguagem singular que a artista explora, através da associação de uma malha tecida entre as pinturas e a instalação de uma séria de objetos gravados em gesso. É revelada uma intenção para além dos actos e dos símbolos, sintomas do que está para lá do traço impresso, um convite ao encontro com o interior da obra, seduzindo o olhar do espetador a uma aproximação. Entre as pinturas e os objetos há um vislumbre de semelhança, parecem feitos da mesma matéria, da mesma intimidade e do mesmo mistério, criam inquietação pelo material, pela escala, são florações do símbolo do mistério do nosso espirito.
A dimensão organicista de ENTRETANTO impressa em superfícies baças, e em composições que se movem em torno do cheio e do vazio são a materialização de uma ideia que convoca conceitos de tradição filosófica e artística - corpo e espirito, imagem e reminiscência, fazedor e demiurgo – transpondo a ideia do fragmento, como categoria que evoca o universal e o ausente, um constante devir. A suspensão do tempo e a inquietude que a obra nos provoca, exploram de forma serena a possibilidade de suspender a existência cronológica e corpórea.
Nesta série de trabalhos, a artista junta um formalismo à sua narrativa através de um novo dispositivo que congrega as diversas camadas da sua pintura, mas que subjuga a intensidade da poética que pretende mostrar ao observador.
"Grandes são os desertos e tudo é deserto"
Álvaro de Campos