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ENIGMA
Fábio Colaço


ARTES do Porto
02.04 __ 29.04.2022


© Fábio Colaço

 

 

O conjunto de trabalhos reunidos nesta exposição, apontam para uma reflexão sobre a mudança de perceção e valor do dinheiro, bem como o poder sem precedentes que o mesmo tem exercido na imaginação humana da Antiguidade à Contemporaneidade.

Desde o aparecimento das primeiras moedas na antiga Lídia (atual Turquia) no século VII a.C., ao desenvolvimento do papel-moeda na China em 7 d.C., ao estabelecimento de bancos durante o Renascimento e, mais recentemente, ao início do dinheiro eletrónico, o conceito de dinheiro tem-se transformado ao longo do tempo. O dinheiro está a perder a sua fisicalidade e a tornar-se ainda mais abstrato e imaterial, sobretudo a partir da criação da criptomoeda: uma moeda digital, na qual são exercidas técnicas de criptografia para regular a criação de unidades de moeda e verificar a transferência de fundos, operando independentemente de um banco central.

 

O próprio Capitalismo diversificou a produção industrial para a produção de serviços, formas intangíveis e produtos financeiros complexos. Termos como o ‘Capitalismo Cognitivo’ e o ‘Bio Capitalismo’ passaram a significar a acumulação de riqueza através da exploração do conhecimento, bem como do corpo humano e das suas faculdades. Ao mesmo tempo, embora o Capitalismo Industrial e a Produção Tangível não tenham eclipsado, mas estejam cada vez mais a “desaparecer”, o Capitalismo Financeiro - a produção de dinheiro através de dinheiro - adquiriu uma posição dominante na Economia Global. O dinheiro está a ser feito do nada. Tudo o que já foi sólido agora funde-se no ar. A desregulamentação financeira sucessiva (para facilitar a iniciativa privada) permitiu que o poder do dinheiro crescesse com a sua quantidade. Paradoxalmente, embora o dinheiro se tenha tornado muito menos “tátil”, o seu poder cresceu exponencialmente, em detrimento de outros valores. Embora alguns falem da “tirania do dinheiro”, o dinheiro é uma língua que todos entendem e algo que a maioria das pessoas deseja. “Protege-me daquilo que quero” é uma frase da artista americana Jenny Holzer com um sentido ambíguo se pensarmos na nossa relação com o dinheiro.

Como diria Byung Chul-Han, vivemos na era da psicopolítica, abrangidos pelas novas técnicas de poder do Capitalismo que influenciam a vida psíquica, convertendo-a na sua principal força de produção. Os sistemas monetários contemporâneos adaptados a um sistema capitalista neoliberal, são hoje um depósito de lacunas e entrelinhas.

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