Em Be My Guest, o projecto desenvolvido por vários artistas especificamente para a exposição colectiva comemorativa do 5º Aniversário da Galeria NAVE, parte do conceito no sentido literal do título da exposição, e as interpretações pessoais articuladas com o desafio que a Galeria apresentou a cada um dos seus artistas representados.

 

Numa época digital em que um convite é um sopro que é lançado ao ar e o algoritmo espalha como areia no deserto de forma padronizada - parcamente decifrável para a grande maioria, e demasiado informático para outros tantos e entre os quais me incluo, “O” convite formal, aquele, personalizado e até poetizado com alguma reverência, quase está olvidado. Quisemos provocar os artistas nesta data - que para nós NAVE, além de marcante também representa a fronteira do desafio destes cinco anos, a pensarem em um artista junto ao qual gostariam de expor pela primeira vez e que sobretudo, admirassem, sem balizas de linguagem artística, geografia ou género. O convite deveria ser dirigido com essa solenidade, mas também com a humildade de um anfitrião que aguarda, até com alguma inquietação, pela resposta do seu convidado. A NAVE também esteve ao lado dos seus artistas, participou do desafio e formalizou um convite.

 

Com assiduidade recorro ao substantivo banquete, que me conduz à emoção filosófica do Banquete de Platão. Provavelmente porque o tema principal seja uma sequência de diálogos sobre a natureza e a definição do que é o amor. Numa perspectiva pessoal, é absolutamente impossível desagregar a Arte da diversidade da perspectiva conceptual da natureza humana, a artística, que nos brinda com conceitos, reflexões e interpretações que possibilitam ao observador reflectir e sobretudo, permitir-se emocionar. O mesmo sucede com o amor, a abnegação dos artistas que quando expõem a sua obra – por vezes exibindo questões pessoais e íntimas, apresentando-as para que, mais uma vez, o público tenha a possibilidade além de contemplar beleza procurar no seu subconsciente e nas suas referências a liberdade de uma visão pessoal sobre a obra exposta.

 

É impossível sentir indiferença quando visitamos a exposição, pois percebemos que além do desafio suplantado pelos artistas, somos sacudidos por uma orquestra de diversas melodias artísticas - selecionadas individualmente por cada um dos artistas da galeria sem nunca terem partilhado as suas escolhas com o resto do grupo (apenas comigo), e que resulta numa composição de elevado timbre e qualidade.

Nesta sala, e em cada obra exposta, não ouve qualquer imposição temática aos artistas, senão a da liberdade de apresentar a sua própria derme e essência das suas práticas artísticas, e a partir de cada compleição, foi composta a narrativa que os reúne a todos.

Os 13 artistas apresentam 13 obras que são o verdadeiro sentido do banquete, o festim dos diálogos poéticos e metafóricos, contidos na espacialidade da sala da Galeria, sobretudo oferecendo-nos tudo, a generosidade da intimidade do pensamento pessoal de cada um e isso, além de arte, é também afeto.

 

Be My Guest como expressão global e multicultural da imagem actual da arte ultra contemporânea da geografia europeia, é uma exposição opulenta de trabalhos duma vasta multiplicidade de médiuns: desde a instalação à escultura, fotografia, desenho, pintura, vídeo, arte têxtil e obra gráfica que se juntam em Lisboa, vindas da Noruega, Bélgica, Alemanha, Espanha e Portugal.

 

Perdoem a gala e a exultação, mas esta é uma exposição colectiva de celebração de 5 anos da Galeria NAVE que até hoje, já apresentou 34 exposições e 29 artistas.

 

Agora, façam o favor de ser os nossos convidados, sintam-se em casa e descubram todos os artistas, porque eles são os vossos verdadeiros anfitriões.

 

 

Mercedes Cerón

Maio, 2024

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