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ARCOlisboa 2025
SOLO Project BOOTH S12

Mariona Berenguer

Cordoaria Nacional, Lisboa (PT)
29.05 __ 01.06.2025

© Bruno Lopes

A proposta da Mariona Berenguer, irrompe do sentimento generalizado de medo e desalento que se intensificou na Europa nos últimos anos: a pandemia de COVID-19, a polarização política, as guerras que se aproximam — e aquelas que apesar de distantes, acompanhamos diariamente através dos nossos telemóveis — a crise económica, a crise climática e a reaparição da extrema-direita.

 

A frase que dá título ao conhecido poema de Antonio Machado, Caminante no hay camino, repete-se incansavelmente como o nome de uma marca estampado numa passadeiraa de corrida. Desassociada do poema, esta frase funciona como um slogan ou um sinal, que nos alerta sobre a incapacidade de continuarmos. Em simultâneo, Caminante no hay camino puxa o fio que desvela todo o poema, sendo na sua génese uma ode à esperança e à liberdade. Machado diz-nos que a vida não está predefinida, mas sim que é construída a cada decisão e acção que tomamos. Trata-se de um convite a viver de forma consciente, sem apego ao passado e aceitando a incerteza do futuro. Como parte da geração que nasceu no início dos anos noventa, a artista cresceu com o ideal da cultura do esforço e das políticas neoliberais que prometeram que tudo é possível, e que apenas dependia de nós. Essa falsa promessa que ignora a desigualdade social e as características individuais de cada pessoa, provocou na geração da artista um relevante grau de frustração e cinismo. O caminhante sem caminho retrata a metáfora da dificuldade em imaginar um futuro em que as condições — políticas, económicas e sociais — sejam favoráveis à vida.

 

Os girassóis  - utilizados anteriormente pela artista em outros projetos como símbolo da energia e do esgotamento relacionados aos ciclos de trabalho e da exploração, aparecem também como representação do alimento, do tempo, da fertilidade e, sobretudo, do sol; como energia primordial que permite a vida na Terra. Esta forma de apresentação é inspirada num processo de colheita e secagem das sementes para consumo humano. Com a intenção de facilitar sua secagem e evitar o aparecimento de fungos, as flores são cortadas e cravadas nas suas próprias hastes voltadas para cima. Com esse procedimento, a planta morre enquanto o girassol vai secando e também mantém uma certa semelhança à sua forma original, vendo-se forçado a estar encarado sempre para cima.

 

O título desta instalação, Clockwise, realça o conceito dominante do tempo e como este foi modificado e imposto sobre a atividade humana, mas também aponta de forma subtil o desvio neoliberal generalizado para a direita. Os girassóis atravessados pelas suas próprias hastes encarnam a morte dos símbolos solares, o fim da possibilidade do ciclo. Os desenhos de Berenguer remetem também a essa ideia, com o título 5 billion, aludem ao tempo estimado até a explosão do sol.

 

Todos os trabalhos se reúnem no conceito de energia: os desenhos através da imagem do sol no momento da sua explosão, também no traço enérgico e repetitivo da técnica utilizada para riscar o bastão de óleo sobre o papel; a passadeira de corrida conectada a uma tomada elétrica, que tem a função de consumir a nossa energia com a promessa de que produziremos mais; e por fim, os girassóis, destinados a seguir a rotação solar, materializados em cera, e quando está em estado de combustão se transforma libertando energia em forma de luz e calor.

 

Com estes trabalhos, Berenguer também explora o conceito de finitude  - entendido como um fenómeno natural e cíclico, destinado à repetição, abordando-o nas suas diferentes magnitudes. Desde a mais extrema: o fim do mundo, até outras menos distantes — mas não menos difíceis de imaginar — como o fim da própria vida, de um sistema político ou simplesmente de uma ideia.

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